O meu pai foi o meu primeiro Mestre! Chama-se Joaquim.
Ensinou-me a ler, tinha eu 4 anos. Fê-lo através dos títulos dos artigos do jornal "Diário Popular" que era o que, nessa época, se lia lá em casa. Assim, quando fui para a 1ª classe já conseguia ler tudo. O meu pai era o meu herói.
Lisboeta e homem de fortes convicções, educou-me a mim e ao meu irmão, sob um sentido régio de que em primeiro lugar está sempre a família.
Quarto filho de uma família humilde mas honrada, nasceu quando a minha avó Luzia já tinha 40 anos. O meu avô Zé Maria era um boémio que adorava andar pelo Chiado e pela Baixa, dando-se com artistas e escritores. A imagem que tenho dele é de um homem alto, elegante, muito bem posto e que me sentava nos seus joelhos dando-me palmadinhas nas costas, dizendo:" Muito bem, muito bem".
Ainda era criança quando eles partiram, mas lembro-me bem deles e guardo com carinho as suas memórias.
O meu pai andou na escola só até à 4ª classe, como milhões de portugueses da primeira metade do século XX, mas sempre procurou cultivar-se interessando-se por diversas matérias. Além disso, sempre foi um ás com os números. Faz contas de cabeça mais rápido que uma calculadora.
As memórias mais doces que guardo da infância são passadas com ele. Lembro-me quando agarrava em mim, segurava-me debaixo dos braços e eu estendia-os para chegar com as mãos ao tecto. Como me sentia crescida, nessas alturas! Lembro-me de pôr os meus pés em cima dos dele e dançarmos juntos, bem agarradinhos, ao som da música do rádio a válvulas que ele comprou assim que eu nasci, para a menina poder ouvir música.
Lembro-me de quando o meu pai me ensinou a nadar na praia da Ericeira em que punha a sua mão debaixo da minha barriga e eu dava aos pés e aos braços. Até que um dia nadei sózinha...
Lembro-me de quando ele chegava a casa já tarde, depois das dez da noite, vindo do serão no emprego e que ainda tinha paciência para ir ver se eu tinha feito bem os trabalhos de casa. Ai de mim se não estivessem bem, obrigava-me a levantar e lá ía eu corrigir o que estava mal. E, fez ele muito bem:)
O meu pai deu-me uma educação muito disciplinada, mas com liberdade para que eu pudesse crescer com ferramentas culturais e sociais para singrar na vida.
Aos 10 anos inscreveu-me na ginástica ritmica porque era bom para mim e fazia bem à saúde, sempre apoiou os meus estudos e quiz para mim um curso superior numa faculdade convencional. Essa vontade não consegui fazer-lhe, mas pai sou tão feliz como Professora formada pela Universidade de Yôga...
Portanto pai, continuas a ser o meu herói e quero agradecer-te tudo o que fizeste por mim. Todo o apoio, carinho, amor, repreensões e lições de coragem que me deste nestes 51 anos da minha vida. Amo-te muito.